sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Ideologia da competência

... Rafael J. Vieira

A ideologia da competência pode ser resumida da seguinte maneira: não é qualquer pessoa que pode em qualquer lugar e em qualquer ocasião dizer qualquer coisa a qualquer outra pessoa. O que determina de antemão quem tem o direito de falar e quem deve ouvir, assim como predetermina os lugares e as circunstâncias em que é permitido falar e ouvir, e, finalmente, define previamente a forma e o conteúdo do que deve ser dito e precisa ser ouvido. Essas distinções têm como fundamento uma distinção principal, aquela que divide socialmente os detentores de um saber ou de um conhecimento (científico, técnico, religioso, político, artístico), que podem falar e têm o direito de mandar e comandar, e os desprovidos de saber, que devem ouvir e obedecer. A ideologia da competência institui a divisão social entre os competentes (aqueles que sabem), e os incompetentes (os que obedecem).
Realiza a dominação pelo prestígio e poder conferidos ao conhecimento científico e tecnológico.
A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Na indivisão, apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da idéia de “humanidade”, ou da idéia de “nação’ e “pátria”, ou da idéia de “raça”. Nas diferenças naturais, somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.
Essa ideologia opera com a figura do "especialista" que nos ensina tudo, desde a fazer sexo, jardinagem, culinária, educação das crianças, como amar Jesus e ganhar o céu.

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